Todos os dias, milhares, talvez milhões, de oportunidades são perdidas devido ao design que não é inclusivo. Por exemplo, a mulher cega que não pode comprar online porque o site não suporta a audiodescrição. Clientes surdos não conseguem resolver seus problemas de cartão de crédito porque não há chat ou serviço de língua de sinais disponível. Um jovem não consegue ler sua mensagem de texto ao sol. Um turista se esforça para entender o vídeo de segurança porque seu idioma nativo não está disponível nas legendas.
Estes são apenas alguns exemplos de como o design nos exclui e afeta a qualidade do nosso dia a dia. Como diz a autora Kat Holmes: “Todos nós nos tornamos deficientes em algum momento de nossas vidas”.
Este artigo convida todas as pessoas que se preocupam em construir produtos, serviços e tecnologias mais justos e responsáveis a conhecer um pouco mais sobre design inclusivo e como ele se relaciona com a tecnologia responsável. Nele, descrevo questões-chave, abordagens e forneço exemplos para ajudar a explicar os vários termos e explorar como o design inclusivo é bom para os negócios.
Definindo deficiência
Há um bilhão de pessoas vivendo com deficiência [1]. Isso equivale a 15% da população mundial e está crescendo devido ao aumento da população idosa à medida que a expectativa de vida aumenta.
Apesar desses números enormes, o design inclusivo não deve ser apenas para pessoas com deficiência ou alguém com uma necessidade mais específica, mas para todas as pessoas.
O Inclusive Design Research Centre reformula a deficiência dentro do contexto do design. Em vez de uma característica pessoal ou um estado binário (deficiente vs. não deficiente), a deficiência é enquadrada como: “uma incompatibilidade entre as necessidades do indivíduo e o design do produto, sistema ou serviço” [2]. Com esse enquadramento, a deficiência pode ser vivenciada por qualquer pessoa excluída pelo projeto. Por exemplo, ao ouvir uma palestra apenas com áudio, o aluno cego fica menos incapacitado do que o aluno menos fluente no idioma ou o aluno que passou a noite acordado.
A Organização Mundial da Saúde diz: “A deficiência não é apenas um problema de saúde. É um fenômeno complexo, refletindo a interação entre as características do corpo de uma pessoa e as características da sociedade em que vive.” Essas definições sustentam o modelo social de deficiência, que não é visto como um estado binário (pessoa com deficiência versus pessoa sem deficiência), mas como a incompatibilidade entre o design do produto, sistema ou serviço e as necessidades do usuário. Nessa perspectiva, a deficiência acontece quando a pessoa é excluída deliberadamente.
Design inclusivo X design universal
De acordo com o Inclusive Design Research Center, design inclusivo é:
“design que considera toda a diversidade humana em relação à habilidade, linguagem, cultura, gênero, idade e outras formas de diferença humana”.
Muitas vezes há confusão entre design inclusivo e design universal, pois eles têm o mesmo objetivo final: a inclusão. O design universal pede um design que funcione para todos, sem necessidade de ajustes — foi originalmente definido para arquitetura e design de interiores, onde uma solução única é necessária. O design inclusivo, por outro lado, é voltado para produtos digitais e permite soluções específicas que podem ser estendidas a diferentes usuários. É considerado uma metodologia.
A acessibilidade no desenvolvimento de produtos, serviços e tecnologia é considerada tendo em mente as pessoas com deficiência. Acessibilidade e design inclusivo trabalham juntos para criar experiências verdadeiramente utilizáveis para todos, em vez de apenas cumprir os padrões de acessibilidade.
Princípios de design inclusivo
O Microsoft Design define o design inclusivo em termos de três princípios simples:
1. Reconheça a exclusão
Projetar para a inclusão não apenas estende o uso de produtos e serviços para mais pessoas, mas também reflete quem as pessoas realmente são. Todos os seres humanos crescem e se adaptam ao mundo ao seu redor e queremos que nossos designs reflitam isso.
2. Resolva para um, estenda para muitos
Todo mundo tem habilidades e limites para essas habilidades. Ao considerar as necessidades das pessoas com deficiência permanente desde o início e projetar para elas, é provável que você construa projetos que beneficiem a todos, independentemente das circunstâncias.
3. Aprenda com a diversidade
Os seres humanos são os verdadeiros especialistas em se adaptar à diversidade. O design inclusivo coloca as pessoas no centro desde o início do processo, e essas novas e diversas perspectivas são a chave para o verdadeiro insight.
Bom design = Bom para todas
O design inclusivo enfatiza a importância de projetar para todos, quaisquer que sejam suas circunstâncias. Quando incluímos e consideramos todos no processo de criação de tecnologia — consulte o guia de Tecnologia Responsável para obter mais detalhes — estamos melhorando vidas e criando um futuro tecnológico mais igualitário no qual todos são representados e têm voz.
Posso convidá-los a refletir juntos e avaliar como estamos trabalhando em design e tecnologia? A tecnologia que estamos desenvolvendo tem sido inclusiva ou exclusiva?
Vamos questionar o status quo, vamos pensar de forma sistêmica, prever os possíveis impactos dos projetos tecnológicos nas pessoas e no ecossistema. Contemplar possíveis soluções que possam efetivamente resultar na construção de uma sociedade melhor. Estamos melhorando vidas e criando um futuro tecnológico mais igualitário, no qual todos estão representados e têm voz. Vamos fazer a nossa parte.
Saiba mais:
Inclusive Design Research Centre - What is inclusive design
How Inclusive Design Drives Innovation
[1] https://www.thevaluable500.com/
[2] https://legacy.idrc.ocadu.ca/about-the-idrc/49-resources/online-resources/articles-and-papers/443-whatisinclusivedesign