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Design de ecossistemas: uma abordagem integrada para atender às expectativas dos clientes

Design de ecossistemas: uma abordagem integrada para atender às expectativas dos clientes

Recentemente tivemos um boom dos profissionais conhecidos como Product designers, estes que não olham mais apenas para a experiência do usuário, mas também passaram a olhar para o impacto das experiências em uma camada de negócio a partir de uma lente de produto. Nesse movimento, designers se aproximaram dos product managers e essa combinação direcionou todo um processo de trabalho que foi amplamente aplicado no mercado de maneira geral em 2022.

Trago essa fotografia, por assim dizer, para ilustrar que os modelos de trabalho de design vêm se modificando de maneira relativamente rápida ao longo dos anos, principalmente quando aplicamos a lente dos produtos digitais. Só percebemos essa movimentações quando colocamos o nosso modelo de trabalho em uma perspectiva analítica: web designers se tornaram arquitetos da informação, que em seguida passaram a olhar não apenas para a interface, mas para a experiência, para então começar a criar uma fluência maior em negócio, estabelecendo uma visão mais estratégica de produto.

 

Analisando os movimentos da indústria, tendências e possibilidades, uma coisa chamou minha atenção no último ano e acredito que vai ditar a maneira como trabalhamos em um futuro próximo. Em 2022 você provavelmente se deparou com alguma publicação no linkedin, medium ou participou de alguma reunião de trabalho em que alguém usou o termo: Ecossistema.

É preciso entender um ecossistema como um conjunto, combinação de diferentes partes, que estão de alguma maneira integradas e que se influenciam direta ou indiretamente.

Esta visão mais ampla e integrada que trás um produto/serviço como parte de uma experiência, e não o centro dela, afeta tanto a percepção de experiência do cliente final, como a maneira como as unidades de trabalho de uma organização operam.

Dentro dos modelos tradicionais de administração, no qual a maior parte das empresas ainda se baseiam, existe uma predisposição ao surgimento dos silos organizacionais. Silos organizacionais basicamente são grupos de trabalho que trabalham de maneira isolada, em alguns casos chegam até mesmo a disputar recursos com outras equipes e iniciativas. Atualmente, não é difícil encontrar equipes de produto trabalhando de maneira isolada, tendo que negociar com outros produtos da mesma organização por cooperação, uma vez que cada um deles possuem metas e objetivos distintos.

Trabalhar com uma mentalidade de ecossistema irá fomentar o surgimento de novos modelos de trabalho, promovendo uma visão interdisciplinar que vai além do design e da figura de produto. Isso porque buscamos uma movimentação uniforme das partes do ecossistema, ao invés de movimentos isolados e fragmentados. Isso naturalmente exige uma mudança na maneira como nos organizamos e operamos: novos processos, metodologias e estruturas.

Por que começamos a falar de ecossistema agora?

O motivo pelo qual passamos a falar de ecossistemas é porque precisamos projetar de maneira intencional as experiências, que tem se tornado o maior ativo das empresas.

A indústria se adapta aos modelos e comportamentos de consumo da sociedade e é orientada aos modelos econômicos vigentes. Saímos de um período onde as marcas produziam para fazer você querer algo, e entramos em um onde as organizações produzem coisas que nos ajudam a usufruir de experiências.

Sempre falo que estamos amadurecendo cada vez mais em uma economia orientada a experiências, conforme os autores Joseph Pine II, James H. Gilmore sugerem em seu livro "The experience economy".

Um dos reflexos de uma economia de experiência é que passamos a valorizar muito mais o acesso do que ser proprietário. Alguns exemplos disso: 

 

  • Disney + que garante acesso catalogo aos seus conteúdos por um preço mensal; 
  • Game pass do Xbox que garante acesso a um catálogo cada vez maior de games;
  • Os diversos serviços de aluguel de carro que apareceram no mercado;
  • O Quinto Andar que facilitou a locação de imóveis;
  • Airbnb que promove experiências locais em diversas partes do mundo.

 

Experiências são complexas porque relacionam produtos, serviços, pessoas, comportamentos, interações, lugares e tudo isso numa perspectiva de tempo. Essa complexidade exige que novas habilidades sejam desenvolvidas por nós designers.


Como desenhar ecossistemas?


Ecossistemas são organismos únicos, porque são compostos por pessoas diferentes, que se organizam com base em processos distintos, ou seja, não temos como criar uma receita para atuar em um ecossistema, mas podemos exercitar uma mentalidade que nos ajude a começar a ter uma fluência nesse assunto. 

 

Mentalidade

 

Multidisciplinar
Um ecossistema funciona de maneira interdisciplinar, são diferentes visões de mundo e expertises que sustentam uma operação. Ter essa visão é fundamental para que se rompa as bolhas disciplinares e que as trocas de conhecimento ocorram de maneira orgânica e não de maneira reativa, respondendo a emergências.

Colaboração
Tendo pessoas de diferentes saberes conectadas e integradas é possível quebrar um padrão de comportamento de trabalho individual e trazer um equilíbrio para a operação. Devemos promover um ambiente que fomente um comportamento colaborativo, promover o encontro de ideias e dar espaço para que as pessoas possam experimentar. Uma mentalidade colaborativa ajuda a distribuir a capacidade de inovação ao longo do ecossistema.

 

Modelo de trabalho

 

Visão compartilhada


Um dos principais motivos para que produtos e serviços não consigam sustentar uma entrega de valor ao longo do tempo é a falta de alinhamento sobre o direcionamento entre os envolvidos. Nós enquanto designers precisamos costurar o entendimento entre as partes e garantir que o direcionamento da estrutura seja acessível para toda a organização e conectado ao seu direcionamento estratégico. Em uma cultura de produto falamos de criar visões de produto, em uma cultura de ecossistema, falamos de visões compartilhadas.

Um conjunto de visões compartilhadas dão visibilidade sobre o ecossistema como um todo, tipo um mapa da galáxia.

Trabalhar numa perspectiva de tempo


É fundamental em um ecossistema que se trabalhe em uma perspectiva de tempo. Uma experiência é composta pela repetição de uso de produtos, serviços, canais e requer principalmente uma capacidade de renovação de expectativa.

É preciso entender como ocorre a formação da percepção de experiência e como ela se desenvolve a partir da repetição de uso, ou como eu gosto de chamar, lastro da experiência.



Para construir



Autonomia
A autonomia das partes de um ecossistema é fundamental para que ele possa se desenvolver através da experimentação com foco em inovação. Que mecanismos e processos são necessários construir ou implementar para que uma unidade de trabalho tenha a confiança necessária para atuar com autonomia?

Visibilidade
É preciso pensar que vão existir outras equipes que podem impactar ou serem impactadas pelo seu trabalho. Como garantir visibilidade das diferentes iniciativas, ações e eventos do seu grupo de trabalho?

Estamos em um momento único, com a oportunidade de repensar processos, metodologias, desenvolver novos frameworks e também repensar o nosso papel dentro das organizações.

Desenhar ecossistemas é uma brincadeira coletiva, não dá para brincar sozinho, e isso exige que a gente amplie nossa visão de maneira analítica, mas também empática, para sermos capazes de influenciar a maneira como as organizações operam. Como eu disse anteriormente, trabalhar com uma mentalidade de ecossistema é muito mais complexo, e vai requerer que você construa ferramentas e processos que sua organização seja capaz de sustentar e operacionalizar.

Estou animado para ver como vamos evoluir este ano neste tema.

 

Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.