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Baixa hierarquia não é bagunça!

Uma coisa boa de se trabalhar em lugares inovadores é que você trabalha com pessoas criativas e conversa sobre assuntos muito interessantes. Numa dessas conversas, falava com uma amiga sobre espanto. Mais especificamente sobre o espanto das pessoas quando vêem nossa sala de videogame. Na verdade a sala não tem nada demais. Pra começar, nem é uma sala fechada: é um sofá de 2 lugares, 2 poltronas, uma TV de 46" e um videogame em um espaço aberto próximo a cozinha. Mas sempre tem ao menos uma dupla jogando. E toda vez que recebemos algum possível cliente ou parceiro, eles olham aquele ambiente com espanto.

Na verdade é um misto de incredulidade e surpresa, o que é muito engraçado para gente. Sim, é engraçado e curioso ao mesmo tempo pois o espaço *realmente* não tem nada demais. Mas dá pra ver claramente o ponto de interrogação na testa de quem não está acostumado. E todos tem a mesma pergunta. Alguns não a fazem por educação ou vergonha, não sei. Mas outros discretamente indagam "Me diz aí: quem é que manda essa gurizada voltar pro trabalho?"

Ninguém. E essa é a beleza da coisa. Quando se trabalha com pessoas responsáveis, não é necessário mandá-las parar: elas sabem o próprio limite. Eu lidero o escritório de uma empresa onde a hierarquia é bastante baixa, e essa é a realidade. Essa abordagem tem uma série de vantagens, e é baseada em um princípio relativamente simples: mostrar que a empresa confia nas pessoas. Mostrando isso, as pessoas se sentem parte do todo, ficam a vontade para dar sugestões, para agir quando algo está errado, produzem mais e fazem melhor o que tem de fazer. Quais os ganhos? Pessoas felizes, ambiente mais leve e confiança em alta. Isso naturalmente fomenta um ambiente produtivo e criativo, alem de diminuir o desperdício, aumentar a satisfação dos clientes e gerar um maior faturamento. Um bom negócio mesmo se você só pensa em dinheiro (pois afinal, tudo isso gera mais receita).

O problema é que chegar até esse nível não é fácil. É necessária uma disciplina muito grande para fazer isso acontecer, e o acompanhamento tem de ser diário e inserido na estratégia da empresa para que todo o ecossistema funcione. É uma daquelas ações que é fácil de explicar e difícil de fazer.

Mas não é impossível. Uma das estratégias para atingir este nível de maturidade é explicar o raciocínio por trás das decisões. Responsabilidade vale para os dois lados. E se você quer adultos trabalhando com você, deve tratá-los como tais. Inclua as pessoas nos processos decisórios. Só assim elas terão informações suficientes para tomar suas próprias decisões. Isso faz com que decisões sejam mais rápidas e melhores, além de liberar você para se preocupar com outras prioridades.

Outra ação que leva nessa direção é óbvia mas quase ninguém segue: selecionar bem os novos contratados. Ao contratar, procure por perfis que sejam responsáveis e que se encaixem na estratégia da empresa. E o mais importante: resista a pressão de contratar só porque você tem de fechar uma vaga. Cada pessoa desalinhada que entra, mais difícil é mover para uma cultura mais ágil. Ah, e você não vai conseguir isso com aquela consultoria de RH da esquina: é preciso gente boa, treinada e que entenda muito bem o objetivo da empresa.

Por fim, ouça muito. Já notou que a imagem que temos de um sábio é daquele velhinho oriental que deixa todos falarem e depois, pacientemente e em uma única frase, diz tudo que precisava ser dito e muito mais? Então porque você insiste em falar o tempo todo? Ouça as pessoas e considere o que elas falam: reflita a respeito e considere as opiniões nos processos decisórios da empresa.

Com certeza existem outras ações que lhe ajudarão a seguir nesse caminho, mas estas já são um bom começo. Tente aplicá-las e medir o resultado depois de alguns meses. Você verá a diferença que isso faz no seu ambiente de trabalho.

Publicado originalmente aqui.

Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.

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