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Edição #19 | Dezembro 2021

Sustentabilidade digital: a nova prioridade para líderes de negócios

 
A pressão crescente de vários setores – órgãos reguladores, grupos investidores, público consumidor, ativistas –, somada ao impacto das mudanças climáticas nos negócios, colocou a sustentabilidade no topo da lista de prioridades das empresas. Em uma recente pesquisa global conduzida pela Deloitte, mais de 80% das lideranças executivas afirmaram que suas organizações estavam preocupadas ou muito preocupadas com as mudanças climáticas. Desafios operacionais decorrentes de desastres relacionados ao clima, a crescente escassez de recursos e as incertezas políticas estão entre os principais impactos que as empresas estão enfrentando, ou já experimentaram.

 

O Pacto Climático de Glasgow, selado na conferência das Nações Unidas sobre mudanças climática em 2021 (COP26), serviu como mais um sinal de alerta para as empresas, reforçando a importância de gerenciar suas pegadas de carbono e as possíveis consequências de não fazê-lo para as finanças e para a reputação.

 

Os principais desafios ambientais que afetam os negócios hoje, ou possivelmente afetarão em um futuro próximo

 

Fonte: Deloitte

 

Poucas organizações ou líderes empresariais se opõem em princípio aos compromissos de sustentabilidade. Como Lisa McNally, Head of Cleantech and Sustainability na Thoughtworks, observa: “Não é mais opcional ser um negócio sustentável. A sustentabilidade é hoje um requisito para ser um negócio competitivo. Esse é o patamar inicial.”

 

A questão é como traduzir esses compromissos em ações significativas, especialmente quando, em muitos setores, há uma escassez de metas claras e nenhum padrão a se seguir.

 

Na maioria das vezes, a ação climática assume a forma de políticas e ações para aumento da conscientização; em alguns casos, esforços para reduzir o desperdício ou promover o uso de materiais reciclados. E, à medida que a tecnologia se torna mais integrada aos negócios, as organizações começarão a lidar com a sustentabilidade na dimensão digital – um processo que a maioria ainda precisa compreender.

 

“À medida que aceleramos a adoção da tecnologia em nossas vidas diárias, especialmente em um mundo pós-pandêmico, fica ainda mais nítido que precisamos considerá-la como parte da pegada de carbono total de uma organização”, pontua Elise Zelechowski, chefe global de Sustentabilidade, Thoughtworks. “Mas a ideia da pegada de carbono digital é algo tão novo que as pessoas ainda estão tentando entendê-la, e muitas vezes nem mesmo saber o que procurar. É necessário ampliar a conscientização de que sustentabilidade é algo que todas as empresas devem avaliar ao planejar e construir tecnologia, tomando decisões que minimizem sua pegada de carbono na criação de software.”

 

De acordo com George Earle, Global Director, Office of the Chief Commercial Officer na Thoughtworks, há relativamente pouca consciência entre as empresas de que a tecnologia é uma área suficientemente madura em relação à sustentabilidade – e a oportunidade de otimizar práticas ou operações para obter ganhos ambientais rápidos também pode beneficiar diretamente a planilha de balanço.

 

“Nossa própria experiência nos ensinou que em tecnologia existem oportunidades evidentes de melhorar os processos, de abordar a cadeia de suprimentos cientificamente, de encontrar maneiras melhores de fazer as mesmas coisas de maneira mais limpa, economizando dinheiro da empresa e contribuindo para a lucratividade”, ele diz.

 

Financeiramente, bem como moralmente, então, há um caso claro para as empresas tornarem a construção e integração de abordagens de tecnologia mais conscientes do ponto de vista ambiental, à medida que se preparam para um novo ano.

 

“Toda empresa que se considera um negócio moderno, que quer estar pronta para a nova economia, precisa colocar em prática um plano para começar a reduzir sua pegada de carbono digital, para entender os investimentos que precisarão ser feitos e como será a transição de seus negócios, pelo menos em alto nível, agora ”, diz Zelechowski. “Se não estão pelo menos na fase de avaliação, precisam estar.”

 

I. Os dois lados da tecnologia 

 

Quando se trata de sustentabilidade, a tecnologia é uma espécie de faca de dois gumes. A transição para serviços habilitados pela tecnologia foi apoiada por uma infraestrutura de uso intensivo de energia, especialmente os data centers. Segundo algumas estimativas, o setor de TI já é um emissor tão significativo quanto a indústria de aviação, e será responsável por cerca de 10% da demanda global de eletricidade até 2030.

 

Ao mesmo tempo, novas soluções em áreas como inteligência artificial (IA) e computação em nuvem também estão possibilitando abordagens mais sustentáveis. A empresa de pesquisa IDC, por exemplo, estima que a eficiência obtida por meio da computação em nuvem pode evitar a emissão de mais de um bilhão de toneladas de dióxido de carbono até 2024. E embora os algoritmos de IA por trás de algumas das aplicações de software mais recentes exijam recursos significativos para treinamento, modificar o design, fonte de energia e hardware do computador pode reduzir drasticamente a intensidade de seu impacto ambiental.

 

A digitalização nem sempre é ecologicamente correta

 

Fonte: Thoughtworks

 

Isso significa que as empresas têm uma escolha – e que uma estratégia de tecnologia sustentável está ao alcance das organizações que desejam se comprometer com um esforço que, por vezes, será desafiador.

 

“Para determinar o seu perfil de sustentabilidade atual, é necessário muito trabalho e compromisso para localizar esses dados, para agregar, sintetizar e analisá-los, e então usar essas informações ano após ano para monitorar e gerenciar o progresso em direção às metas ambientais ”, explica Zelechowski. “Mas a tecnologia também é um elemento facilitador, e há uma série de novas ferramentas por aí que podem tornar tudo isso mais fácil de entender.”

 

Identificar e trabalhar com os dados certos desempenha um papel importante na transformação dos compromissos de sustentabilidade em progresso tangível, mas ainda representa um desafio para a maioria das empresas. Um estudo descobriu que apenas 16% usam dados de bancos de dados comerciais que medem suas pegadas de carbono, e menos ainda (14%) usam dados específicos de alta qualidade para conduzir avaliações no nível do produto. Depender menos de dados do que ideais pode aumentar as chances de resultados imprecisos.

 

Concepções equivocadas sobre os impactos do carbono da tecnologia também são comuns. “Quando as empresas estão migrando para a nuvem, esse movimento é muitas percebido como algo positivo na área de mitigação de carbono”, observa Zelechowski. “Mas, como estamos começando a entender, nem todo movimento para a nuvem significa necessariamente uma pegada de carbono reduzida. É necessária uma análise muito mais profunda das emissões subjacentes de diferentes decisões.”

 

Como Earle aponta, as duas principais forças que impulsionam a adoção de requisitos ambientais, sociais e de governança tendem a se concentrar em métricas, que podem encorajar as empresas a gerar e relatar o mínimo de dados necessários para manter a conformidade e parar por aí. “É essencialmente um processo orientado para o constrangimento”, afirma ele. “Quando uma política é estabelecida, as empresas adquirem um software que vasculha seus dados e descobre como reportá-los, para que possam dizer ‘estamos aqui’. Do ponto de vista da política de relatórios, é apenas riscar um item da lista.”

 

Conformidade regulatória e valor de mercado são os principais impulsionadores dos esforços ambientais, sociais e de governança

 

Fonte: Deloitte

 

Além do mais, mesmo entre órgãos reguladores e grupos investidores, “os padrões ainda não foram totalmente desenvolvidos, acordados ou aderidos”, observa McNally. “Todo mundo está esperando que um número de participantes do mercado se equipare e procure uma liderança para impulsionar um determinado padrão.” Embora existam expectativas de progresso por parte de organismos como a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, por enquanto as empresas muitas vezes são deixadas no limbo.

 

As emissões relacionadas à tecnologia apresentam dificuldades adicionais, pois tendem a se enquadrar no que se categoriza como emissões de escopo 3 – aquelas geradas indiretamente por uma empresa no curso de seus negócios, em oposição às emissões de escopo 1 e escopo 2, que incluem as emissões geradas diretamente pelo consumo de energia e ativos próprios, como a frota de veículos de uma empresa.

 

“As emissões do escopo 3 não são uma categoria obrigatória para relatórios, então não há muito incentivo hoje para medi-las”, diz McNally. “Além disso, também são uma das categorias mais difíceis de medir.”

 

Como as emissões dos escopos 1, 2 e 3 se comparam

 

Escopo 1

  • Queima de combustível
  • Veículos corporativos
  • Emissões fugitivas

 

Escopo 2

  • Aquisição de eletricidade, aquecimento e vapor

 

Escopo 3

  • Bens e serviços adquiridos
  • Viagens de negócios
  • Deslocamento de profissionais
  • Depósitos de lixo
  • Uso de matéria-prima
  • Transporte e distribuição (montante e jusante)
  • Investimentos
  • Franquias e ativos alugados

 

Fonte: Carbon Trust

 

II. Abraçando a oportunidade de investir em tecnologia verde

 

Dadas todas essas incertezas, por que as empresas começar a se aprofundar nos impactos ambientais de suas soluções e práticas de tecnologia?

 

Deixando de lado quaisquer argumentos éticos no sentido de fazer a coisa certa, Earle observa que adotar abordagens de tecnologia mais sustentáveis ​​pode produzir eficiência substancial no curto e longo prazo – uma oportunidade que, segundo ele, precisa ser melhor comunicada por órgãos formuladores de políticas.

 

“Existe uma maneira matemática de abordar, com retornos financeiros, então por que qualquer empresa consideraria perda de tempo?”, ele pontua. “Mas esse é o elo que faltava na discussão. Não há incentivo financeiro claro para fazer isso; em vez disso, é uma lógica baseada em punição.”

 

“Toda a noção de sustentabilidade é reduzir o desperdício em um sistema”, concorda Zelechowski. “Ao olhar para suas iniciativas de sustentabilidade, as empresas podem priorizar onde vão economizar água, economizar energia e obter ROI de curto prazo. Quando se trata de nossa própria pegada de carbono, certamente vimos oportunidades de fazer reduções que imediatamente economizam dinheiro para o negócio.”

 

No médio a longo prazo, devido ao crescente escrutínio da tecnologia como fonte de emissões, grupos investidores e público consumidor também irão pressionar as empresas percebidas como lentas na redução de suas pegadas de carbono e valorizar as pioneiros. “A tecnologia sustentável pode aumentar seus custos no início, mas você também vai ganhar impulso e começar a atrair mais investimento de qualidade com o tempo”, observa McNally.

 

Uma prática de tecnologia sustentável também oferece às empresas a chance de liderar pelo exemplo, ajudando a definir padrões para medir, relatar e gerenciar as emissões de escopo 3 quando a maioria ainda é incipiente.

 

“Qualquer trabalho nesta área tem potencial para um impacto significativo, para empresas de tecnologia e também para outras empresas”, diz McNally.

 


Lisa McNally, Head of Cleantech and Sustainability, Thoughtworks
“Qualquer trabalho nesta área tem potencial para um impacto significativo, tanto para empresas de tecnologia como para empresas de outros setores.”

 

Lisa McNally
Head of Cleantech and Sustainability, Thoughtworks

 


 

III. Começando com adesão coletiva

 

Para alavancar a vantagem competitiva que a tecnologia sustentável confere, as empresas devem “pensar grande e com ousadia” sobre como fazer mudanças, aconselha Zelechowski. “Há uma corrida para inovar o mais rápido possível, para permanecer relevante, porque assim que as pressões regulatórias atingirem certos setores, estes estarão em desvantagem.”

 

Entretanto, nenhuma mudança pode ser implementada com sucesso de uma só vez. “Você precisa quebrar as iniciativas de sustentabilidade transformacional em etapas menores”, diz ela. “Quando se trata de realmente transformar o perfil de sustentabilidade de uma empresa, muito disso se refere à cultura e à disposição de olhar para o modelo de negócios, identificando os grandes contribuintes para a pegada ambiental que precisam ser fundamentalmente reconsiderados.”

 

Isso será mais fácil em alguns setores do que em outros. “Algumas organizações, como empresas de tecnologia ou nativas digitais, podem se mover mais rapidamente e se adaptar”, explica Zelechowski. “Mas as empresas com uma grande pegada física, processos ou práticas que consomem muita energia, ou cadeias de suprimentos muito complexas e cheias de recursos, passarão por uma mudança maior na forma como funcionam.”

 

De acordo com Zelechowski, o progresso real depende do alinhamento e dos esforços para que todas as pessoas na empresa se conectem com a visão da evolução planejada – um processo que depende de “empatia, paciência e comunicação”. A diversidade também é uma parte essencial nesse conjunto de ferramentas.

 

“Vimos com nossas próprias iniciativas de sustentabilidade ambiental que você obtém mais e melhores resultados mais rapidamente se tiver um grupo diversificado de pessoas representando diferentes funções dentro da sua organização na mesa desde o início”, explica ela. “É importante garantir que todas as pessoas tenham uma compreensão compartilhada das metas de sustentabilidade que você está tentando alcançar, bem como quais são as oportunidades e necessidades.”

 

Trazer uma série de líderes senior a bordo pode ajudar a garantir que as metas de sustentabilidade estejam conectadas às realidades financeiras, o que contribui para sua longevidade e adesão organizacional geral. “Garantir que a pessoa que é diretora de compras tenha um assento à mesa, por exemplo, é essencial, já que ela está, em última instância, no controle da cadeia de suprimentos da empresa – que é onde estão muitas oportunidades de sustentabilidade”, observa Earle.

 


George Earle, Global Director, OCCO, Thoughtworks

 

“Nossa experiência mostra que quando os processos de atualização das estratégias de sustentabilidade estão associados a melhorias operacionais que resultam em lucro, as empresas se mostram dispostas a investir recursos.”

 

George Earle
Global Director, OCCO, Thoughtworks

 


 

Há um forte argumento para incorporar considerações financeiras, como ROI de curto e longo prazo, no processo de identificação das maiores oportunidades de mitigação de carbono.

 

“Nossa experiência mostrou que quando os processos de atualização das estratégias de sustentabilidade estão associados a melhorias operacionais que resultam em lucro, as empresas se mostram dispostas a investir recursos”, diz Earle.

 

No entanto, investir em novas áreas geralmente requer orçamentos dedicados, que, devido à natureza isolada de muitos negócios, nem sempre estão disponíveis. “Cada unidade de negócios normalmente tem seu próprio orçamento, que em geral não possui uma linha para iniciativas de sustentabilidade”, diz McNally. “É mais difícil reunir fundos e investir em algo novo, em vez de apenas ver a economia nos negócios normalmente.”

 

Nesse sentido, revisar e otimizar o que o negócio está fazendo hoje em vez de financiar uma nova iniciativa massiva pode ser uma venda mais fácil e uma maneira melhor de ganhar impulso.

 

A adesão em todas as operações da organização também equipa a empresa com a representação inclusiva necessária para avaliar todas as suas operações de forma holística para oportunidades de otimização.

 

“Uma avaliação das áreas de maior impacto potencial é o ponto de partida quando as empresas estão tentando entender como deve ser seu plano de sustentabilidade”, diz Zelechowski. “É preciso mergulhar profundamente nas emissões de carbono em seus negócios.”

 

“Ajudar as empresas a definir sua pegada começa com a identificação dos elementos de tecnologia do trabalho que realizam”, diz McNally. “Assim que pudermos nos concentrar e entender esse componente das operações diárias de uma empresa, podemos começar a olhar para as oportunidades de otimizar e reduzir as emissões imediatamente.”

 

É aqui que começa o árduo trabalho de coleta e análise de dados para gerar insights. A boa notícia é que não faltam opções de ferramentas para identificar onde os impactos ambientais podem ser mitigados – na verdade, o contrário costuma ser verdadeiro.

 

“De certa forma, é um espaço tão cheio de ferramentas que é difícil saber por onde começar ou onde dar o primeiro passo”, diz Zelechowski. “Iniciativas globais maiores, como as Science-Based Targets (SBTi) estão se tornando amplamente adotadas e reconhecidas como um padrão de relatório, fornecendo um ótimo ponto de partida para empresas que desejam se comprometer e enfrentar o processo de definição de metas de carbono.”

 

O padrão net-zero, estabelecido pela SBTi, orienta as empresas no desenvolvimento de metas claras de curto e longo prazo para reduzir as emissões de carbono em toda a sua cadeia de valor, com o objetivo final de manter o aumento da temperatura global em não mais de 1,5° C até 2050. Essa estrutura ganhou força substancial, com cerca de um quinto das maiores empresas de capital aberto do mundo se comprometendo com metas de emissão zero.

 

 

IV. Definindo padrões de sucesso

 

Apesar das boas intenções, a experiência da Thoughtworks mostra que tentar medir as emissões de carbono não é uma tarefa fácil – especialmente quando se trata de decidir se os dados coletados são de qualidade e quantidade suficientes para desenvolver um ponto de partida.

 

“O primeiro passo que demos foi fazer determinar um patamar para o carbono, para realmente entender onde estávamos em um momento que refletia a pegada de carbono usual de nosso negócio”, diz Zelechowski. “Em seguida, usamos esse patamar para definir metas significativas que se alinhassem à referência de 1,5° C.”

 

“Embora leve tempo para obter bons dados que forneçam um retrato genuíno de seu patamar de carbono, as empresas também precisam encontrar um equilíbrio e perceber em um determinado ponto que reuniram uma quantidade de dados suficientemente relevante do ponto de vista estatístico para trabalhar, em vez de buscar uma precisão absoluta”, acrescenta. A parceria com um órgão como o SBTi pode ajudar no processo.

 

Embora existam ferramentas para avaliar de forma confiável as emissões de carbono em toda a empresa, a peça que faltava no quebra-cabeça da sustentabilidade para a tecnologia era uma medição padronizada de Software Carbon Intensity (SCI), a taxa de emissões de carbono de um aplicativo de software. Este é um dos principais problemas que estão sendo abordados pela Green Software Foundation, da qual a Thoughtworks é uma das empresas parceiras fundadoras. A especificação SCI desenvolvida pela fundação permite que empresas e pessoas desenvolvedoras calculem uma pontuação para aplicações, o que ajuda a compreender melhor a pegada de carbono de qualquer solução de tecnologia.

 

“O objetivo deste padrão é trazer um nível de padronização ao nosso entendimento de como medir o impacto de qualquer produto de software”, explica Zelechowski. “Isso ajudará muito a estabelecer uma base para medição mais ampla da pegada de carbono digital de qualquer organização ou ferramenta de software que construirmos.”

 

Em certa medida, este é um trabalho em andamento, especialmente devido à taxa de mudança na indústria de tecnologia. “Estamos tentando descrever o que acreditamos que devam ser os padrões de como fazer isso”, observa Earle. “Mas um dos principais debates que tivemos é se estamos realmente capturando tudo. Grande parte da discussão é sobre métricas e essas apresentam problemas que ainda precisam ser resolvidos.”

 

Uma advertência fundamental envolve como as emissões são concebidas e definidas. “Quando calculamos as emissões, precisamos estar cientes de que muitas vezes estamos quantificando as emissões em vez de medi-las de fato”, explica McNally. “Quantificar tem mais a ver com estimar com base em dados proxy e coeficientes que muitas vezes são médias.”

 

Além disso, o próprio conceito net-zero pode estar sujeito a desafios. “Existem muitas críticas agora sobre toda a noção de net-zero como um conceito, porque para operar qualquer negócio, você vai criar emissões”, diz Zelechowski. “Muitas vezes, quando as empresas falam sobre emissão zero, na verdade estão dizendo que vão chegar a um certo ponto e, em seguida, vão comprar compensações de carbono para chegar a essa pegada zero.”

 

“Para realmente reduzir as emissões, as empresas precisam fazer mudanças muito mais cedo em sua cadeia de valor”, diz McNally.

 

As compensações têm se mostrado polêmicas como mecanismo de sustentabilidade, com grupos ambientalistas como o Greenpeace classificando-as como uma "farsa" destinada a encobrir a poluição contínua e questões como contagem dupla – ou seja, duas partes reivindicando o mesmo "crédito" de redução de emissões – cada vez mais evidentes.

 


Lisa McNally, Head of Cleantech and Sustainability, Thoughtworks
“Para realmente reduzir as emissões, as empresas precisam fazer mudanças muito mais cedo em sua cadeia de valor.”

 

Lisa McNally
Head of Cleantech and Sustainability, Thoughtworks


 

Como McNally aponta, ao decidir onde investir, uma empresa pode alterar os resultados antes mesmo de serem gerados, em vez de apresentar uma ferramenta para medi-los posteriormente. Construir critérios de sustentabilidade em todas as RFPs de tecnologia de uma empresa é uma maneira relativamente rápida de impulsionar o progresso real.

 

“Estamos vendo que está se tornando uma abordagem usual de negócios, e as fornecedoras estão tendo que responder, o que cria muita motivação para tomar melhores decisões de compra”, acrescenta McNally.

 

Earle observa até mesmo casos em que a pessoa responsável pela direção de sustentabilidade de uma empresa se reporta à pessoa responsável pela direção de compras, que, por sua vez, tem a palavra final sobre quaisquer decisões de investimento em tecnologia com inputs de CIOs ou CTOs – criando um 'ciclo fechado' no qual as escolhas sobre coisas como provedoras de nuvem estão sujeitas a critérios financeiros e de sustentabilidade.

 

A economia circular – que exige considerar o que acontece com os equipamentos de TI após sua aposentadoria – também deve influenciar a seleção de fornecedoras. Por exemplo, RFPs em que pesem os protocolos e requisitos da fornecedora para aluguel ou compra de tecnologia e políticas sobre a aceitação de equipamentos aposentados. “Dada a quantidade de equipamentos de TI e software que passam pelas empresas, esta é uma maneira natural de realizar reduções de emissões tangíveis e viáveis ​”, diz McNally.

 

Geralmente, ter relacionamentos com fornecedoras com base na compreensão de suas prioridades de sustentabilidade e selecionar aquelas que têm padrões ou certificações ambientais explícitas pode facilitar o desenvolvimento e a manutenção de uma cadeia de suprimentos sustentável. Isso se aplica particularmente à aquisição de data center e serviços em nuvem, que são um grande componente das operações de TI de qualquer empresa.

 

“O trabalho de estratégia de data center e nuvem é uma área promissora para as empresas executarem mudanças na forma como fazem negócios e dependem de sua infraestrutura de TI”, diz McNally. “Isso afeta a todo mundo – no varejo, indústria alimentícia, até petróleo e gás. Você não precisa ser o Google ou uma empresa de tecnologia. Qualquer pessoa que esteja fazendo negócios digitalmente pode fazer escolhas positivas.”

 

 

V. Evoluindo abordagens de infraestrutura  

 

Embora já existam grandes exemplos de infraestrutura "verde", estudos sugerem que há muito mais que pode ser feito para avaliar e agir em relação à sua intensidade de emissão de carbono – e que há muito em jogo.

 

“Estamos apenas começando a entender as implicações ambientais de digitalizar tudo, principalmente algumas inovações, como moedas virtuais, que provavelmente vão consumir recursos de forma massiva”, observa Earle.

 


George Earle, Global Director, OCCO, Thoughtworks
“Estamos apenas começando a entender as implicações ambientais de digitalizar tudo, principalmente algumas inovações, como moedas virtuais, que provavelmente vão consumir recursos de forma massiva.”

 

George Earle
Global Director, OCCO, Thoughtworks


 

Um estudo abrangente de centenas de data centers e provedoras de serviços de TI descobriu que apenas 33% das operações estavam monitorando o impacto de carbono de seus data centers e infraestruturas internas de TI. Em contraste, mais de 70% monitoram a eficiência energética e 82% monitoram o consumo de eletricidade.

 

A disparidade se resume ao risco comercial que esses fatores apresentam. Enquanto o consumo de energia impacta o tempo de atividade do data center, as emissões de carbono representam pouco risco operacional imediato, mesmo quando as operadoras se comprometem a adotar práticas mais sustentáveis. Essa inação atinge as muitas empresas que dependem de soluções de computação em nuvem.

 

Emissões de carbono de data centers, uma das métricas menos incluídas em relatórios de sustentabilidade

 

Fonte: Thoughtworks

 

“Um dos maiores desafios é que, embora grandes provedoras de nuvem como Microsoft, Amazon e Google forneçam suas próprias calculadoras de nuvem de carbono, a maioria das empresas, especialmente as grandes organizações, provavelmente possui várias nuvens”, diz Zelechowski.

 

De fato, uma pesquisa recente com profissionais de tecnologia indicou que 76% de suas organizações tinham uma estratégia de nuvens múltiplas e que tais estratégias são perseguidas pela esmagadora maioria (90%) das grandes organizações com mais de 5 mil pessoas.

 

Para ajudar a resolver esse problema, a Thoughtworks criou uma ferramenta de código aberto, Cloud Carbon Footprint (CCF), que se baseia em dados coletados por vários sistemas operacionais em nuvem e mede quanto poder de processamento está sendo usado por qualquer parte do software, para que as empresas possam aproximar a emissão de carbono pelo que estão fazendo. A ferramenta CCF também identifica áreas de emissões ocultas e economias potenciais, como armazenamento que ficou inativo por meses e está custando dinheiro à empresa.

 

A ferramenta é capaz de oferecer recomendações como excluir o armazenamento não utilizado ou transferir a carga de trabalho de um data center para outro que usa mais energia renovável, fornecendo caminhos adicionais para apoiar as iniciativas de nuvem sustentável das empresas. “Há uma interface visual que permite que você compreenda facilmente a carga e identifique oportunidades de otimização e melhoria”, explica Earle.

 

A ferramenta também pode ser personalizado para extrair dados de data centers locais das empresas para ajudar as empresas a entender seu patamar atual e os impactos e custos projetados se mudarem para a nuvem.

 

“A ferramenta CCF coloca a tomada de decisões de volta nas mãos da empresa, deixando claro que, embora as provedoras de nuvem decidam, em última instância, onde localizam seus data centers e quanta energia usam, as empresas ainda podem fazer mudanças em seu lado para fazer melhor uso desses recursos”, observa McNally. “Para empresas que estão analisando relatórios ESG e já têm metodologias para determinar suas emissões para o escopo 1 e 2, a CCF pode ajudá-las a começar a se envolver com o uso de nuvem e dados, que se enquadram nas emissões do escopo 3.”

 

 

VI. Expandindo as fronteiras da sustentabilidade

 

Desenvolvimentos como a ferramenta CCF mostram que, embora a medição da sustentabilidade e o progresso continuem sendo um alvo móvel, a variedade e os recursos das ferramentas que as empresas têm à sua disposição para tomar decisões estratégicas sobre os investimentos em computação em nuvem (ou processos de negócios) também estão evoluindo.

 

“Estamos trabalhando para levar a análise de dados ainda mais longe, trazendo modelagem e simulação de cenários de negócios e emissões associadas mais profundamente na cadeia de abastecimento, usando ferramentas como simulações Monte Carlo para ajudar as empresas a analisar a probabilidade de vários resultados e auxiliar na melhor tomada de decisão,” diz Earle. “Os modelos de rede neural de IA têm o potencial de condensar análises longas em um período de tempo muito mais curto.”

 

“Os avanços na tecnologia e infraestrutura de veículos elétricos também criarão oportunidades para as empresas reduzirem as emissões em suas cadeias de abastecimento, enquanto os padrões de construção sustentável continuarão a moldar maiores investimentos imobiliários”, observa McNally.

 

Embora as reduções de emissão de carbono possam ser realizadas otimizando os processos atuais, expandir de fato a fronteira da sustentabilidade digital provavelmente exigirá novos investimentos. Soluções emergentes para apoiar práticas de tecnologia mais verdes podem fornecer o impulso necessário em direção a verdadeiras metas net-zero, mesmo quando as empresas dependem mais de dados e recursos intensivos de energia para atender às demandas operacionais e de sustentabilidade. No entanto, isso também exigirá um investimento inicial significativo de capital.

 

“Se você opera um data center que funciona com energia suja, por exemplo, e deseja fazer a transição para energias renováveis, é necessário fazer um investimento”, explica Zelechowski. “E haverá algumas considerações sobre o prazo de retorno do seu investimento porque, idealmente, em algum ponto, se for uma fonte de energia renovável alimentando o seu data center, ela produzirá energia e não custará mais nada em qualquer lugar, exceto para as taxas de conexão à rede.”

 

A lista do que é viável em termos de fontes de energia pode se expandir significativamente nos próximos anos, observa Earle. “Estamos apenas começando a explorar o potencial da energia renovável, e há um potencial significativo em campos como a energia solar baseada no espaço”, diz ele.

 

Mesmo antes de uma transição completa para energia limpa, as tecnologias de mitigação, como captura, armazenamento e utilização de carbono, podem ser uma boa ponte para impulsionar a indústria. “Há muito financiamento público disponível para ajudar empresas inovadoras e algumas indústrias a seguir essa abordagem”, diz McNally.

 

Zelechowski aconselha, no entanto, líderes de negócios a considerar cuidadosamente cada nova tecnologia ou prática emergente que desejam adotar no contexto dos objetivos que estão tentando alcançar, bem como suas características e implicações de sustentabilidade.

 

“As empresas precisam deixar de simplesmente perseguir ‘objetos brilhantes’ ou optar pela solução mais fácil disponível”, diz ela. “A aquisição de laptops novos e mais eficientes, por exemplo, deve ser avaliada em relação ao seu desempenho, à capacidade das pessoas de trabalhar com eficiência nesses computadores, às considerações de privacidade e todas as outras dimensões. Há uma tensão com muitas novas tecnologias que tem levado as empresas a trocar certos elementos facilitadores de eficiência por outros.”

 

Além da definição de metas ou da adoção de soluções e práticas, a sustentabilidade deve ser uma mudança de mentalidade.

 

“Incorporar o pensamento de sustentabilidade no processo de design do produto desde o início é a melhor maneira de gerar resultados positivos e garantir o uso mais eficiente dos recursos em qualquer coisa que você entregar”, diz Zelechowski .

 

Elise Zelechowski, Global Head of Sustainability, Thoughtworks
“Incorporar o pensamento de sustentabilidade no processo de design do produto desde o início é a melhor maneira de gerar resultados positivos e garantir o uso mais eficiente dos recursos em qualquer coisa que você entregar.”

 

Elise Zelechowski
Global Head of Sustainability, Thoughtworks


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